segunda-feira, 8 de abril de 2013

o provocador


Julgamentos estão em moda no Brasil. Desde que envolvam goleiros, crimes passionais e políticos do PT. Aí, é uma festa, com ampla cobertura de mídia e comoção nacional. Horas de transmissão ao vivo, manchetes de primeira página, capas de revista e blocos inteiros nos telejornais.
Mas quando vão a júri assassinos de posseiros, lideres ambientais, sem-terra ou missionários, o interesse público é tão restrito que se confunde com desprezo. O País não chora a morte de desvalidos, pobres e guerreiros anônimos. A guerra civil que tomou conta das grandes cidades e a guerrilha que se instalou no campo ficam escondidas em pequenas notas e raríssimos comentários.
Não há sede de justiça para as centenas de pessoas mortas todo ano em conflitos de terra. Pistoleiros sanguinários não despertam revolta. Fazendeiros inescrupulosos recebem proteção policial para preservar suas terras improdutivas ou em litígio, enquanto continuam mandantes de crimes covardes e impunes.
Esta semana, quem estava muito atento percebeu que mais uma página de vergonha estava sendo escrita em nossos longínquos tribunais. Em Marabá (PA), José Rodrigues Moreira era acusado de mandar matar o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em maio de 2011. Mas foi absolvido. Por falta de provas, segundo o júri.
Seu irmão, Lindonjonson Silva, e outro acusado, Alberto Nascimento, foram condenados pelo assassinato do casal, por maioria dos votos. Nem aí houve unanimidade, apesar de provas robustas, como diria Joaquim Barbosa. O primeiro cumprirá pena de 42 anos e 8 meses pelo duplo homicídio. O segundo, 45 anos.
As ameaças de morte proferidas pelo réu eram públicas. Testemunhas de acusação recebiam escolta, pois também estão juradas de morte. Nada disso comoveu os jurados, que preferiram se emocionar com o discurso teatral e religioso de José Rodrigues, claramente ensaiado pela defesa.
Num requinte de sadismo e crueldade, o júri considerou que o “comportamento da vítima contribuiu para o crime, pois a vítima enfrentou o réu José Rodrigues, tentando fazer justiça pelas próprias mãos, com a ajuda de terceiros, posseiros e sem-terra, para impedir o corréu de ter a posse de imóvel rural, quando poderia ter procurado apoio das autoridades constituídas”.
Claro, as autoridades. As mesmas que chamaram a tropa de choque para dispersar os manifestantes revoltados com a sentença final. As mesmas autoridades que protelam há décadas a tão fundamental reforma agraria que poderia encerrar essa epopeia sangrenta que tanto nos desmerece diante do mundo. Claro, as autoridades.
Esse julgamento é apenas mais um. Em breve será esquecido, até por necessidade, já que a pilha de processos não para de crescer nos fóruns do Brasil profundo, abandonado, sem flashes nem câmeras de TV. O assassinato de Chico Mendes só se tornou notícia por aqui uma semana depois do crime, por conta da violenta repercussão internacional. Só descobrimos nossos heróis depois de mortos. Alguns, nem quando são assassinados novamente, nas sentenças proferidas em nossos tribunais.

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3 abril 2013

ruy castro Lei que autoriza biografias é entulho democrático
Ruy Castro, autor de biografia sobre Mané Garrincha
Tem coisas que só acontecem no Brasil. Temos uma Constituição que diz com todas as letras que é pétrea a liberdade de expressão e de informação. No entanto, o Congresso está em vias de aprovar um projeto que libera a divulgação de filmes ou publicação de livros biográficos sem autorização da pessoa retratada ou de sua família.
Como assim? É preciso inventar uma lei para que se cumpra o que determina a Carta Magna da Nação? Na época da ditadura, criou-se um entulho autoritário só revisto na Constituinte de 1988. Agora, estamos inovando e criando um entulho democrático, um amontoado de leis pontuais, inúteis e redundantes.
Proibir a circulação de um livro deveria ser motivo de vergonha para um juiz. Mas não tem sido. O Judiciário de primeira instância prefere se apoiar no Código Civil, que atualmente só autoriza a divulgação de imagens e informações de personagens públicos em situações específicas.
Já se tornaram famosos os casos das biografias do cantor Roberto Carlos e do jogador Garrincha. O músico e a família do atleta simplesmente impediram a circulação dos livros usando argumentos como preservação de imagem e outras subjetividades. Estrela Solitária, de Ruy Castro, eu li. É uma obra-prima, à altura da grandeza do craque. Já a vida de Roberto Carlos não me interessa — e não deve ter nada de escabroso.
Toda essa perda de tempo discutindo se vivemos num país civilizado só existe porque o Supremo sentou em cima de uma ação direta de inconstitucionalidade que questiona essa clara afronta à criação artística. Os nossos ministros devem estar muito ocupados para considerarem essa uma questão menor, que nem prazo para julgamento tem.
Mesmo que a lei passe no Senado, para onde segue em breve, a liberdade de expressão continuará ameaçada por interpretações judiciais. Recentemente, uma peça de teatro (gênero que não está contemplado no projeto) foi censurada pela mãe da menina Isabella Nardoni, cujo assassinato era indiretamente citado no espetáculo. Depois de o caso ter sido esmiuçado, escavado, aviltado e exposto durante anos por todos os veículos de comunicação, o que há a ser preservado? Não dá para entender.
Se alguém se sentir prejudicado por uma obra de arte ou uma informação, que procure reparação posterior. Ou escreva algo melhor. Proibir um livro, um filme, uma peça de teatro, o que for, é coisa de fascistas. Pelo que eu saiba, vivemos num Estado democrático. E ponto final.
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2 abril 2013

Se tem uma coisa que vereador gosta de fazer é dar nome a ruas e homenagear pessoas. Muitos só fazem isso. Projeto para a cidade que é bom, nada. É uma profusão inesgotável dessas honrarias inúteis. Uma vergonha.
Mas eis que, em São Paulo, o famigerado vereador Coronel Telhada, conseguiu, por caminhos tortos, dar alguma relevância a essas quinquilharias. O nobre edil propôs que a Câmara Municipal da maior cidade do País homenageie a ROTA. Sim, a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, criada na década de 1970, no auge da ditadura militar, basicamente para reprimir a guerrilha urbana.
Nessa tarefa, ficou notabilizada pelo uso de extrema violência, inclusive tortura e execuções. Esse modus operandi continuou, mesmo depois da redemocratização do Brasil. Foi o ovo da serpente que gerou uma das polícias mais violentas do mundo. Tem muita gente que gosta desse método, como bem sabemos. Mas daí a ser premiado por isso vai uma distância que não se percorre em um estado de direito.
A proposta já passou pela Comissão de Justiça. Ok. Não há nada de inconstitucional na ideia. O próximo passo é a Comissão de Educação, aquela responsável, entre outras coisas, por zelar que se ensine nas escolas os fatos históricos como verdadeiramente aconteceram. Será muito estranho, para dizer o mínimo, se nenhum integrante fizer objeções a esse disparate.
Agora, se a bancada do PT ajudar a aprovar essa insolência em plenário, é o caso de seus seguidores se bandearem de uma vez para o PSOL, porque tudo tem limite, mesmo no pragmatismo rasteiro que tomou conta do outrora maior partido de esquerda deste País.
Não bastasse, a mesma Câmara está propondo que o Viaduto do Chá, principal cartão postal da cidade, agregue ao seu nome o do ex-governador Mário Covas. Será um insulto à população, bem como à memória de um dos poucos políticos íntegros que passaram por aqui.
Duvido que ele mesmo concordasse com essa patifaria travestida de elogio. É muita falta do que fazer. Mas essas duas propostas têm tudo para vingar. É o que temos para hoje. E amanhã. Sempre.
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25 março 2013

foto 1 José Maria Marin para Nobel da Paz!
Não é má vontade minha, não. Mas bem que a seleção brasileira poderia nos poupar da humilhação suprema de levarmos um couro antológico na Copa de 2014. Vai ser um vexame.
Ainda dá tempo de bolarmos uma saída honrosa. Esse timinho que tem entrado nos estádios vestindo o manto canarinho não tem a mais remota chance de vencer grandes equipes. Se chegar às quartas de final já vai ser um milagre. Com um papa argentino, não dá nem pra contar com isso.
É preciso ser muito otimista para achar que Felipão vai dar um jeito nesse amontoado de jogadores medíocres. Pelo estrago que ele fez no Palmeiras, é o caso de agradecermos por não haver segunda divisão na Copa do Mundo.
Não fossemos os anfitriões, correríamos o sério risco de estar de fora da competição pela primeira vez na história. Até a Venezuela é um adversário a ser temido por nós numa eliminatória sul-americana.
Mas exatamente por sermos a sede do evento que vejo uma alternativa minimamente digna. Sugiro que, num ato de aparente grandeza, a CBF comunique que o Brasil vai abrir mão de sua vaga. Sim!
Podemos, por exemplo, ceder o lugar para um país africano ou asiático, daqueles bem miseráveis. Ou para um combinado de israelenses e palestinos. Algo que dê a impressão de que somos uma nação generosa, acima das vaidades futebolísticas.
Com esse gesto grandioso, talvez o José Maria Marin seja indicado ao Nobel da Paz. Ele nem precisaria roubar medalhas ou troféus. Bem melhor do que ser humilhado diante do mundo. Ou estou exagerando, e é mais decente nem aparecer na abertura, sem dar nenhuma satisfação? Talvez pensem que não estamos nem aí pra futebol. Dúvida.

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22 março 2013

Já desci a lenha no Enem várias vezes, inclusive recentemente. Portanto, sinto-me à vontade para meter o bedelho e defender os avaliadores da prova que foram achincalhados por causa do miojo e do hino do Palmeiras.
reproducao da redacao do enem 2012 em que candidato escreve receita de miojo e tira nota 560 1363697385044 615x300 O MEC recomenda: jovens, envelheçam!
Para quem não sabe, explico. Vazou para a imprensa duas redaçõesdo Exame em que estudantes enxertaram uma receita do macarrão instantâneo e passagens do cântico de um time da segunda divisão.  A primeira recebeu nota 560; a segunda, 500. O máximo possível é 1000. Foi uma comoção, como se o ensino brasileiro estivesse nas mãos de irresponsáveis e incompetentes.
De fato, está. Mas não por esse caso. Muito menos por não terem zerado a prova dos dois engraçadinhos, como queria e vociferou a horda que usou o incidente como um sinal do fim dos tempos.
Longe disso, é sensato e essencialmente pedagógico. São muito razoáveis as notas recebidas. Em nota, o Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais) justificou uma delas da seguinte forma: “desconsiderada a inserção inadequada, o texto tratou do tema sugerido e apresentou ideias e argumentos compatíveis. O texto indica compreensão da proposta da redação, não fugiu ao tema por completo e não feriu os direitos humanos”. Não é?
Desclassificar sumariamente um jovem só por conta de uma gracinha inconsequente é coisa de gente velha e ranzinza. Nada teria de educativo. Pior: sinalizaria aos jovens que qualquer ato de rebeldia, ou mesmo uma piada sem graça, é digno de punição exemplar. Isso tem nome. Autoritarismo. Velhacaria.
Pois não é que a direção do Inep decidiu ouvir o rosnar dos letrados e anunciou que, nas próximas edições do Enem, vai zerar as redações que apresentarem algum tom de deboche?
Caramba, essa turma do MEC não acerta uma. Defende nota máxima para redações que apresentem erros grosseiros de ortografia, mas são rigorosos com quem demonstra algum sinal de inteligência ou ousadia. "É uma questão de respeito devido aos demais participantes da prova", disse uma autoridade aí, sobre a medida.
Não é o caso de premiar o “deboche”. Claro que não. Mas muito menos deve se esperar de um educador que haja como um bedel bigodudo e corcunda do século 19.  Castigar alguém para demonstrar respeito a terceiros? Sinto náuseas. Como eu disse acima, os critérios de avaliação nesse quesito eram claros e modernos. Retrocederam.
Nelson Rodrigues, um reacionário genial, dava um conselho: jovens, envelheçam! Pois eu dou outro: velhos, morram!
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19 março 2013

01 A tragédia anunciada e os textos inúteis
Ia falar sobre as enchentes que novamente devastam nossas cidades, notadamente Petrópolis. Aí me lembrei de que, em janeiro de 2012, escrevi “Cadeia para quem não previne enchente“. Um ano antes, minha indignação me levara a postar aqui ”Enchentes causam falta de memória e de vergonha na cara”. Desconfiei que em 2010 também encontraria algum texto sobre o assunto. Batata: “Que os prefeitos se afoguem” está nos arquivos deste blog.
É desolador. Nada muda. Não há justificativa para tamanho descaso com a vida humana. Daqui a um ano voltaremos ao assunto, com a mesma perplexidade, os mesmos discursos vazios das autoridades. As vítimas também vão se repetir. Então fico mudo.
Com muito esforço, também vou me repetir. Se eu estou cansado, imagino o desespero daqueles que vivem (e morrem) nos escombros dessas tragédias anunciadas. A sensação de impotência só não é maior do que a revolta com nossos governantes. Eles são assassinos. Não há outra palavra.
Deve haver uma forma de obrigar que as verbas bilionárias liberadas todos os anos cheguem aos necessitados e não se percam nos esgotos da corrupção endêmica que nos cobre a todos de vergonha.
O que não é aceitável é ficarmos indiferentes, frios, como se a banalização da morte fosse uma vocação deste País. Onde estão nossos vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, ministros, promotores, juízes? Onde está a presidente da República?
Só sabemos onde estão os corpos soterrados. As famílias destruídas. As lágrimas diante das câmeras de TV. E os textos inúteis. Como este.
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18 março 2013

O Enem, pelo visto, faz questão de ser motivo para as maiores trapalhadas do governo federal. Não bastasse a sucessão de fraudes, vazamentos e denúncias, o famigerado Exame Nacional do Ensino Médio resolveu dar nota máxima para redações com erros grosseiros de ortografia — ou "letramento", como preferem os sacerdotes alojados no MEC.
Reportagem de O Globo nos mostrou que, em 30 textos enviados por candidatos que atingiram o limite de pontuação na prova de 2012, pululavam falhas graves de concordância verbal, acentuação, pontuação e grafia, como "rasoavel”, “enchergar” e “trousse”. Obviamente, ninguém deveria ser reprovado por esses deslizes, grosseiros ou não. Mas ser premiado com louvor já é um absoluto esculacho.
Essa flexibilidade, tolerância ou negligência com a forma culta está tomando proporções preocupantes, para não dizer irresponsáveis. É uma ideologia linguística que surgiu na academia, tomou de assalto os livros didáticos e agora pretende se apoderar do INEP, instituto responsável pelo Exame.
Em um País que tem um sistema educacional reprovado em todos os níveis nas avaliações internacionais a que se submete, aceitar esse relativismo gramatical é mais que uma confissão de falência: é um genocídio cultural patrocinado pelo Estado.
O que é aceitável e natural no aprendizado de uma criança (trocar letras, engolir raciocínios, desconhecer normas) passou a ser tolerado em adolescentes e adultos que já deveriam dominar as regras básicas — tivéssemos nós escolas e professores em condições de oferecer uma educação de qualidade.
Os sábios que defendem a precarização do vernáculo costumam adotar uma retórica bem violenta. Quem se opõe a essa infantilização do ensino médio (e superior, aguardem) é taxado de elitista e preconceituoso. Podem me incluir nessa lista, então. Melhor que ser ignorante e vítima desses talibãs que aceitam jovens escrevendo nas trevas.
O PT desistiu das reformas agrária, trabalhista, tributária, política e previdenciária. Recentemente, mandou às favas até os direitos humanos. Só não abriu mão dessa trágica reforma ortográfica que, com o perdão do trocadilho, é uma piada... de português.
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15 março 2013

486061 10151307218111638 132192764 n Bastam seis ministérios, Dilma!
Entrevista de empresário tende a ser inútil por natureza. Falam de seus interesses, e só. Quando posam de patriotas, então, sinto calafrios. Mas o megacapitalista Jorge Gerdau, que está à frente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, presta um grande serviço à nação quando diz que "a burrice de criar ministérios chegou ao limite".
De vez em quando, alguém precisa dizer obviedades. A tendência é que fiquemos anestesiados diante de tanta bandalheira. Temos receio de parecer ridículos repetindo o que todo mundo já sabe. E se tem algo absolutamente indiscutível é que o Estado brasileiro não suporta mais acomodar a ganância dos partidos políticos por cargos.
Gerdau diz, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que deveríamos ter "meia dúzia de ministérios". Algo bem longe dos 39 da gestão Dilma, com seus 20 mil cargos de confiança. Duvido que algum cidadão, por mais esclarecido que seja, consiga lembrar o nome de metade dessas pastas.
Deve ser um recorde mundial. Negativo, claro. É inadministrável um bagulho desse tamanho. Nem mesmo uma centralizadora como a presidente consegue dar conta de tanta gente inútil. Não é possível nem mesmo agendar reuniões mensais com tantos ministros e secretários.
Chegamos ao limite, é fato. Esse modelo está esgotado, sem trazer nenhum benefício. É oneroso, corrupto, ineficiente e, sobretudo, estúpido. Só que, para desarmar essa bomba, seria preciso mudar radicalmente o paradigma da administração pública deste País. Vambora?
Se Dilma seguisse o conselho de Gerdau, a gratidão do povo seria tanta que ela se reelegeria no primeiro turno, com eleitores indo às urnas aos prantos. Pra que apoio de partidos se você tem a população ao seu lado? É um raciocínio angelical, eu sei, mas não custa sonhar um pouco.
Meus seis ministérios imprescindíveis são: Planejamento, Saúde, Educação, Infraestrutura e Defesa. Sei que ainda falta um, mas esse eu vou guardar de presente para o PMDB. Eu posso ser bobo, mas não sou burro.
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13 março 2013

feliciano ok Quem elegeu Marco Feliciano foi o PT
Existe um equivoco básico em toda a polêmica e revolta envolvendo o pastor Marco Feliciano. Sua ascensão à presidência de Comissão de Direitos Humanos do Congresso tem diversos personagens. E o menos culpado é ele. Que o deputado do PSC pense do modo que o notabilizou como homofóbico e racista pode ser extremamente lamentável, mas faz parte do jogo democrático. O Parlamento existe exatamente para dar voz a todos os segmentos da sociedade, principalmente os minoritários. Não gosta disso? Eu pago pra você uma passagem só de ida para a Coreia do Norte.
Por esse aspecto, é inócuo e extravagante que pessoas ostentem faixas ou publiquem fotos com o slogan: “Feliciano não me representa”. Tirando os eleitores que votaram no deputado paulista, não representa mesmo. E ele deve estar se lixando pra isso. Mas ele representa milhares de pessoas, não devemos esquecer isso nunca. O estridente e hiperbólico Feliciano, queiram seus detratores ou não, também tinha todo o direito de se candidatar ao cargo que, de repente, se tornou o mais importante do País. Sim, direito. E se ele se elegeu, foi porque teve a maioria dos votos. Vou relembrar: estamos numa democracia. Aí podemos começar a falar de responsabilidades. E repito, a menor de todas é dele, o "fundamentalista".
Por mim, as passeatas de protesto deveriam votar suas baterias contra, em primeiríssimo lugar, o PT. Foi esse partido que jogou no lixo décadas de luta, rasgando uma de suas maiores bandeiras, exatamente a dos direitos humanos. Por pragmatismo, descuido, por ambição em dirigir comissões consideradas mais lucrativas politicamente falando, se é que me entendem. Porrada nele. A esse desprezo do PT soma-se o interesse dos que viabilizaram a eleição de Feliciano. Deram-se mal, pelo visto, tanto que já há ratos no porão desse navio encalhado pela opinião pública. Bem feito. E podem apostar que, graças a esse equívoco histórico, o debate sobre minorias e seus direitos vai ganhar uma visibilidade jamais imaginada. As famosas linhas tortas que nos ajudam a escrever melhor.
Por fim, cabe uma crítica aos que adotaram como estratégia de luta personalizar o que deveria ser um debate, demonizando (o que não deixa de ser irônico) o paladino da homofobia. Então é uma questão pessoal? Tô fora. Mais estranha fica essa mobilização quando sabemos que, na mesma semana que consagrou Feliciano, foi alçado à presidência da Comissão de Meio Ambiente um notório inimigo da causa, o senador e ruralista Blairo Maggi. Não vi nenhuma faixa hostilizando esse amigo do latifúndio e da exploração predatória de nossas riquezas. O “pessoal dos direitos humanos” não está muito preocupado com a sustentabilidade do País?
Tendo a desconfiar que, bem lá na mais remota masmorra do inconsciente coletivo, a massa cibernética que tomou conta das redes sociais e os poucos milhares que saíram às ruas estão agindo com uma virulência e um sectarismo que em muito reforça o que eles acham que estão combatendo: a intolerância. Deixem que o pastor, seus eleitores e aliados sejam derrotados por seus erros, que são tantos e evidentes. Um homem nunca é apenas um homem, mas suas ideias. Caso consigam eliminar Feliciano, ele se tornará um mártir. Como ele têm seguidores, lamento informar, outros ocuparão seu lugar. Mirem melhor o alvo, companheiros.
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7 março 2013

Definir o que é sensacionalismo na atividade jornalística costuma ser uma decisão fácil. Apelou, dramatizou, vitimizou, demonizou? Então não pode. Difícil é saber como fazer jornalismo quando estamos diante de uma notícia sensacional.
Confesso que não sabia nada sobre o cantor Chorão. Já tinha ouvido o nome da sua banda, e olhe lá. Podem me achar um ignorante: também tem gente que nunca ouviu falar de Proust e Vivaldi. Por isso, prestei atenção no noticiário para entender quem era aquele artista polêmico, violento, admirado por milhares de fãs. Também me interessava saber as circunstâncias em que morreu.
Se houve algo que me deu a dimensão do trágico fim do roqueiro skatista foram as imagens veiculadas com exclusividade pela Record (e depois rapidamente reproduzidas nos portais de notícias da internet, como o UOL).
A degradação em que se encontrava o apartamento, as manchas de sangue, o pó branco na mesa desarrumada, o ar condicionado quebrado no chão, provavelmente arrancado num ataque de fúria: a contundência desse cenário me deu uma boa dimensão — em contraponto às declarações de amigos e conhecidos, sempre laudatórias e previsíveis— de que ali havia ocorrido bem mais que uma lamentável morte por overdose. Estávamos diante de uma tragédia demasiadamente humana.
ENO 0055 copy Morte de Chorão é um fato sensacional, não sensacionalista
Obviamente, o problema não está nas imagens. Elas são reais, não foram manipuladas. As questões que se colocam dizem respeito ao uso que se faz delas. E outra: bons repórteres policiais são aqueles que chegam primeiro na cena do crime. Como chegam é outra questão, bem mais séria, em minha opinião.
Se os jornais impressos também reproduziram as fotos do apartamento, depois de horas pra refletirem sobre sua pertinência, imaginem a situação dos jornalistas que entraram ao vivo na TV? As decisões têm que ser tomadas em segundos.
No caso do vocalista, eu tendo a considerar que foi feito um serviço à opinião pública. Cabendo uma ressalva: imagens de cadáveres, prova a história do bom jornalismo, não são proibidas a priori (basta lembrar a de Vladmir Herzog, fundamental para esclarecer a farsa montada em sua execução pelos militares brasileiros). Mas devem ser divulgadas com muito cuidado e respeito. A de Chorão debruçado na cozinha, tenho convicção, era dispensável.
Fosse um anônimo, uma pessoa comum, nada disso entraria em debate. Seria uma exposição cruel, desnecessária, mórbida, macabra. Injustificável. Mas Chorão não era um desconhecido. Era pra mim. 

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